terça-feira

“Ontem de manhã, descobri que me enganaram. Eu – quer dizer, até ontem de manhã – tinha a mania de repartir o cabelo para o lado esquerdo. Às vezes me apaixonava por donas de casa e vislumbrava um futuro de churrascarias caríssimas aos domingos. Não cogitava em chupar cus. Daí a importância do episódio do poço: joguei meu primeiro cadáver lá dentro: eu mesmo. Isso chega a ser óbvio. Do mesmo jeito – óbvio, como o desejo do suicídio – a gente também tem que saber morrer e tem que saber se matar e enterrar a si mesmo e, sobretudo, matar e enterrar a quem mais se amou (mesmo que esse amor tenha sido reconhecidamente um furioso equívoco): amor por demais; portanto vivido, enganado e matado, nunca morto demais.”


Marcelo Mirisola, 'Azul do filho morto'
(e eu me sinto, de repente, com 173 páginas estranhas no rosto)
e agora só enxergo através delas.

3 comentários:

  1. O começo!
    Uma viagem no Mundo presente
    Será que o vento açoita as árvores
    Ou são elas que cedem ao embalo docemente

    Gostava que sentisses o embalo das palavras


    Mágico beijo

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  2. É. Mirisola é um babaca. Porém indiscutívelmente talentoso.
    (que poder esse endiscutívelmente, deve ser o tamanho da palavra...)

    bjo

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  3. Você vai me emprestar, né tia B.?

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Mente que eu gosto!