quarta-feira

O vento gélido de são paulo sempre me aquece e seu concreto sujo me faz mais terna. Como um útero que choca/junta/cria toda a nossa imundície. E de mãos dadas na avenida o vento frio-cinza como meu velho irmão me escapa tanto. Eu solto as coisas que ele leva pro canto do mundo. O que não se pode conhecer, eu nunca olho para os lados, mas me balanço e me escapo e me derramo para todo o.
folhas em branco não me oprimem mais.

Que você conheça este relógio sem nuvens, chamado morte, dependurado no planeta.

Ontem Roberto Piva fez alguns 70 anos, e eu fui assistir esse rapaz derramar seus poemas na Casa das Rosas.. cada palavra nas mãos trêmulas e na voz entrecortada, me atravessou o corpo, como bola de fogo afiada queimando sutil, fogo negro do santo.


Ganimedes 76
Teu sorriso olhinhos como margaridas negras
....................meu amor navegando na tarde
batidas de pêssego refletindo em seus olhinhos de
....................fuligem
cabelos ouriçados como um pequeno deus de salão
....................rococó
força de um corpo frágil como âncoras
gostei de você
eu também
amanhã então às 7
amanhã às 7
tudo começa agora num ritual lento & cercados de
......................gardênias de pano
Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
......................dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem

Abra os olhos e diga ah! (1976)

segunda-feira

falta de vergonha na cara e sucrilhos pela manhã.
fluxo-floema da Hilda de novo engatilhado.
the cardigans de trilha sonora da semana.
um beijo lasso na garota lassa.

amour malsain

e eu vou me embalando nos teus cabelos me enrolando..
no teu jeito de caminhar
em toda tua lisura desinteressada..
no encaixe quente das tuas pernas eu sou só amor doentio

quarta-feira

Português – VI
Estudo da Narrativa Confessional, ou Prosa Poética Desvairada.

Cara Professora Celise,

Com o passo pesado fui pra casa hoje decidindo a vida, e durou quinze minutos até eu me perder em opções impossíveis, terminei dois livros e não sei de mais nada, ou sei que quero continuar rabiscando e empurrando com a barriga para ver onde vai dar pé, na verdade nem quero ver o tal do pé porque ando com um medo descomunal de me mexer de mim mesma, ou é a preguiça que nasceu comigo e que se confunde com meu nome. Preguiça e urgência, meus dois pólos de conflito que se amam, e eu não amo mais as coisas que eu amava e dei vários passos pra dentro do escuro do poema e nele agora eu me mantenho quente, já querendo mudar a direção. Como sempre me coloco inteira reticente e reticências, cheia de um vazio de várias coisas e de uma coisa só procurando voz e canal pra sair e povoar o mundo como pedra milenar em queda no abismo. Povoar o mundo com meu DNA loiro e torto de vida e deslumbre. Descobri que meu eu profundo cheira a grama molhada, e esse meu eu, que agora não é mais Eu, saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou, um de nós ficou com a Determinação, e creio que não foi Eu. Isso é crise de ócio e vontade de romance. Cadê o meu ray-ban? Atrás dele eu escondo minha multidão.
“ta pensando em quê?
Na vida da gente, Eulália.
E não ta boa, Tiu?
Se ao menos eu conseguisse escrever.
Escreve de mim, da minha vida antes de eu te encontrar, da surra que o Zeca me deu, da doença quele me passou, da minha mãe que morreu de dó do meu pai quando ele pôs o fígado inteirinho pra fora, do nenê queu perdi, do Brasil ué!
Escrevo sim, Eulália, vou escrever da tua tabaca, do meu bastão.
Não fala assim benzinho, só quero ajudá.
Deita-se de bruços, chora um pouco, depois soluça, aí pego a pena de papagaio, uma daquelas com pluminhas verde-amarelas, e assoviando o hino nacional vou espenando sua bundinha, espeto a pena no anel, devagarinho vou alisando a lombada das nádegas, e Eulália se ergue e se arreganha lassa, então vou entrando na mata e deixo as polpas pra pena, bonito ali enfiado, gozo grosso pensando: sou um escritor brasileiro, coisa de macho, negona.
Vamos lá.”

terça-feira

segunda-feira

O amor ta parado lá na esquina me esperando, impaciente com o meu atraso e irritado com minha mania de enrolation. O amor escorado no muro de ray-ban e saia passando da metade da coxa...esvoaça ameaçando perder o pudor, mas não perde. O amor de rebelde só os cachos e os tropeços. O amor desenhado nas paredes da útero de concreto. O amor escorado em alguma esquina da heavy sampa espera meu atraso com um sorriso vermelho...
O amor se me vê passar manda beijos...

sexta-feira

Eu queria muito dizer da minha Ternura, de como ela acontece e porque ela sobrevive. Mas eu sei também que não devo deixar de acompanhar os meus pés em seu caminho estreito. Hoje aquele espinho já não é mais ferida, hoje corrompido, ele faz parte do meu corpo... absorvido no tempo que te escapou.
Vive uma ternura em mim, latente...afogada às vezes em água limpa, quase abençoada.

terça-feira



nenhum insight, só tormenta... e música nos lábios querendo te desenhar.. hoje mais do que comprovado que todo meu processo amoroso e apaixonoso nasce nas víceras, nas minhas, claro. então saborosa garota, meus mais nobres sentimentos à senhorita: fofísse, taradísse, ciumísse e raivísse, bem na boca do meu orgão sexual estomacal às avessas. acordei anti: comunista-socialista, hoje também não gosto de gente-dançarina que rodobaila na curva. com sorriso lá nos andes me espreguicei achando bomba atômica idéia maravilhosa.

Oh, but hold it still, darling, your hair is so
pretty

Can't you feel the warmth of my
sincerity?

segunda-feira

Esse final de semana, eu e meu avô tomamos todas as cervejas da cidade pequena onde ele morou a vida toda, e eu achei uma honra poder tomar um porre com meu avô, que por sinal, tem menos limites do que eu. E me assustei quando me dei conta que ele parece muito mais jovem do que eu, ávido de vida, brincalhão, doce enganador. Provavelmente tem mais namoradas do que eu, o jovem velho sedutor, de sorriso largo e olhos azuis tão limpos que constrangem qualquer cidadão. Tem tanta vida acumulada que já pode ir retirar o prêmio, inevitável prêmio, às vezes me parece que ele guarda todos os segredos nas mãos, ali onde ele tem o controle de tudo, ele gesticula soltando desenhos no ar, incógnitas de um cosmopolita do campo. E foi no silêncio desse campo que eu pensei acalmar as moléculas invisíveis da minha alma, mas só ficou mais nítido o grito surdo do meu peito, pensei em voltar correndo pra cidade onde ninguém escuta nada, só a sinfonia de buzinas e sirenes, quando meu avô me olhou fincado quase me deslocando do lugar e me sentenciou: ‘quando tu pretende domar a fera?’
Dizem que é Sozinho no mato que se enfrenta os piores medos.

sábado




ah....tadinha...

terça-feira

Fala entupida. Cara de sério. Vou viajar. Te encontro lá na curva. Morde o calcanhar do tempo. e me espera

segunda-feira

“ Telefono pra Sabine. Ela saúda sem muito entusiasmo minha reaparição, depois de meses. Recusa meu vamos jantar hoje?, meu vamos jantar amanhã? E até o meu quando é que vamos jantar? Qualquer dia a gente se vê. Ok. Vamos e vortemos, Ricardão não há motivo pra entrar em parafuso. Você já andava meio. Acho que vou dar umas bandas pro lado de. Tomar um café e um ou dois conhaques. Ta frio pra caralho. Onde andarás nessa tarde vazia? Onde andarás quem? Qualquer uma das mulheres que me disseram não. Cleuza por exemplo, esse nome de manicura que ela tanto detestava. Eu nunca ví Cleuza chorar. Só conheci dela o sorriso e o tédio. Sônia amorosa pichando Tesão Voz Une nos muros do cemitério, eu complicado e literatizante bradando que todo anjo é terrível. Hoje em dia, diria talvez, que todo anjo é gostoso. Sônia se entristecia com as minhas esquivanças. Um dia, pouco antes de me mandar, vieram me contar: Sônia anda reclamando pra todo mundo que você fica lendo Baudelaire na cama em vez de comê-la. Meu coração é um pastel de vento. ”