quarta-feira

Doce e amargo, maior que tudo ainda e tão presente que quase dá para tocar. Tão maior que, fala e age pela gente. Não existe fuga, ta do lado de dentro.
Amor serpenteia.

sexta-feira

Estão abertos os trabalhos. ON. Luz verdinha. Vem, pega tua pipoca free e senta aqui no meu colo. Minha casa ta um brilho. Minha gata é rebelde, mas só dorme comigo – fiel como uma cadela. Me levanto e bato palmas, pra minha metade vampira. Pálida como um convite.
Minha felicidade é um naufrágio. Por isso eu posso me afogar! E sempre voltar mais cínica..

Isso são versos. Babaca.

quarta-feira

"Versos! Versos! Sei lá o que são versos..."

TUDO ESTÁ ENTRE PARÊNTESES: Sim, tem caráter autobiográfico. É um texto com mau caráter.[2] A personagem principal é severamente míope (CLOSE). A personagem principal sempre escreve atraso com “z”. A personagem principal pensa que é a protagonista e que, no correr da pena, um intrincado enredo se apresentará, mas nada de importante, nada mesmo, acontecerá neste parágrafo. Nem nos outros. Todas as terças e quintas a personagem principal rega uma samambaia, daquelas vagabundinhas que nunca vai pra frente, só porque alguém colocou uma samambaia ali no escritório e ninguém molha. Ou seria “ali no laboratório”? Ou seria “ali no consultório”? “Ali no gabinete”? “Ali na sacristia”? A personagem principal tem uma rinite crônica que lhe confere um quê de irritabilidade. Ninguém, nem ela mesma, sabe que é alergia a pólen e derivados. A personagem principal sofre de insônia e ninguém sabe.[3] Mas tem aquelas olheiras esquisitíssimas (CLOSE) – acho que algumas pessoas já deduziram a coisa toda da insônia.

COMERCIAL, SIM, E DAÍ?: Resolva já seu problema! A solução que você procurava está exatamente aqui: (JINGLE: “Stop smiling right now!” 2X). Pare de agir como um/uma idiota sempre sorrindo. Compre já o creme anti-risinhos do Doutor Calipso. Chega de cãibras no maxilar! Dê adeus àquelas indesejáveis rugas (precoces!) ao redor da boca! Mantenha aquele ar de seriedade absoluta que fará de você um campeão, em casa, na firma, na fazenda, nas churrascadas que você tanto frequenta. Vida nova em um piscar de olhos. Enviamos para o lugar que quiserem.

TUDO NOS CONFORMES: Sim, cheira a autobiografia. A personagem principal usa lentes de contacto e enxerga relativamente bem, obrigado. A personagem principal balança a perna quando está irriquieta (CLOSE). A personagem principal tem uma obturação antiga que incomoda mas, por falta de tempo/dinheiro/referência, não vai nunca ao dentista. Dorival fica se perguntando o tempo todo: “Terei mau-hálito?” Joanice fica se perguntando o tempo todo: “Estará meu hálito adequado para a situação que se insinua?” Elisvaldo fica se perguntando o tempo todo: “Será que lembrei de escovar os dentes antes de sair de casa?”[4] Demétria fica se perguntando o tempo todo: “Devo perguntar a alguém se meu hálito está realmente agradável?” A personagem principal não pergunta nada. Não pergunta nada. Não pergunta nada a ninguém. Porra, isso sim é personagem, cara! A personagem principal exagera o tempo todo – mas só por dentro. A personagem principal só entra pela porta da frente.

TAKE 126, CENA 1:
“Peguei o carro”. Tem que pegar um carro sempre pra começar qualquer história decente. Carro conversível, claro, né amizade! Depois, aquelas tomadas de estrada vazia e curvas fechadas – que troço manjado![5] E depois tomando uma cerveja e limpando a boca com as costas da mão.[6] E depois parando num posto de gasolina[7]. E depois mijando num acostamento num pôr-de-sol. (Gostou dos tracinhos?). E depois ouvindo uma musiquinha estúpida no rádio do carro. (Mas, como é em inglês, a gente acha o máximo e se sente melancólico). E depois parando num motel vagabundo. E depois entrando no bar do motel e pedindo uma porcaria dupla. No bar tem um pôster do Humphrey Bogard (é assim que se escreve?). Do Elvis, que eu gostava tanto, não tem. Tem um pôster do James Dean. Chega! É demais pra mim.[8]

“TUDO DE BOM, QUERIDA!”: Sim, está me cheirando a autobiografia.[9] A personagem principal tem umas pontadas do lado direito, mais pra cima, isso, bem aí! Mas só as vezes (principalmente ao subir aquela maldita escada que dá para o laboratório). Mas não é caso de operar. A personagem principal, de acordo com os moradores da região, é “uma prevalecida” (quer dizer, é uma besta). A personagem principal rói vergonhosamente as unhas – mas só quando as lentes estão embaçadas ou a rinite piora. (“Dava-lhe nos nervos”, registrará um futuro biógrafo com português ruim). A personagem principal tem plena consciência das diferenças básicas entre kojak e kodak; contudo, foi vista, uma veizinha só mas foi, comendo com a boca quasi-aberta. Era plenilúnio. Cogita-se que tal personagem seja principal porque não há mais ninguém interessado no papel. A personagem principal só entra pela porta dos fundos. Só funda pela forta da prente. Fó sunda fela torta pa frente.

VIOLÊNCIA URBANA: Na minha cidade tem uns malucos que cortam o cabelo de garotas loiras com cabelos compridos e lisos pra vender pra salões de beleza especializados em fazer peruca com cabelos roubados de garotas loiras. Já pegaram três saindo da faculdade. É, três garotas loiras, lisas e longas do Curso de Direito. Obrigado senhor por ter me feito de cabelos castanhos, crespos e curtos. E também porque talvez eu seja apenas um rapaz, o que me mantém fora de perigo. Nunca tinha percebido como estava destinado a ser feliz até então. Protegei as garotas loiras dos assaltantes especializados em cabelos longos. E continuai protegendo para sempre os calvos, pois deles será a calvície eterna. Já viu uma coisa destas em outra cidade? Coitada da Ângela Maria Malhadas nem tem ido à Faculdade. Coitada da Terezinha Singelo nem tem ido a missas-de-sétimo-dia quando são à noite. (Atacam mais à noite, os safados). Coitada da Luizelena Trindade, ela é pixaim mas pensa que é loira e se cortarem os longos cabelos loiros dela para fazer uma peruca estarão cortando uma peruca – já pensou que drama psicológico pra menina?[10] É só nesse lugarzinho aqui onde eu moro! Como ficarão as garotas loiras depois do ato? Existe Barbie de cabelo curto?

TUDO MENTIRA: Pra não dizer que não falei dos altos e dos baixos. Pra não dizer que não falei da saída pela escotilha. Pra não dizer que não falei dos saltos da moda na próxima estação. Pra não dizer que não falei dos filhos-da-mãe. Pra não dizer que não falei dos princípios.[11] E pra não dizer que não cometi pecados: 1) cobicei a mulher do próximo e do antecedente; 2) roubei as canetas do escritório; 3) matei tempo. Sob tensão, matei moscas também num dia de calor insuportável. Matei e daí? Desrespeitei pai e mãe dos outros. Cobicei de novo, só que agora fui às vias de fato – então, na verdade e usando um termo científico, prevariquei (adorei fazer isto apesar da dificuldade de conjugação do verbo). Cobicei o marido da minha melhor amiga (ai ai) e a amiga do meu melhor marido (credo, gente! tô demais!).

GRAVANDO:
“Justine pode parecer apenas um nome, mais um daqueles nomes bonitos. Mas não é. É muito mais do que isso. E agora ele pode ser seu. Ele pode ser in-tei-ra-mente seu por apenas metade do que você imagina”. OUTRA VOZ: “Só três de quinhentos!” MESMA VOZ DO COMEÇO: “Adaptável para qualquer sexo e qualquer idade. Justin. Jus. Justinet. Use a combinação que desejar. Finja que é um novo sobrenome! Chega de ser diminuído porque seus pais tiveram a péssima idéia de lhe dar um nome maldito e sem expressão!” VOZ DOIS OUTRA VEZ SE METE: “Temos também nos modelos Justille e Jhustice, para os mais arrojados... Ouse...”. DUAS VOZES JUNTAS: “Adquira o seu nome próprio e venha para o mundo da sensação sem limites!”. NA TELA, PISCANDO, APARECE AINDA A MENSAGEM: Gratis maxi-desodorante floral Cheiro-de-si.

(SEGUE...): Tomei a água da samambaia! Cometi o pecado da gula. Depois jejuei por três meses e, por conselho de médicos especializados, voltei a comer. Voltei a matar, roubar, faltar aos cultos e afins, às cerimônias de coroação, às sagrações da primavera. Fui numa festinha junina infantil às 3:30 da tarde pra me redimir mas não me redimi. Fui ao zoológico e joguei pipoca pros pombos. Ainda bem que ninguém viu. Perguntei pra uma mulher-da-vida (tracinhos de novo...)[12] quanto era e fingi que não tinha o dinheiro e ela me despachou, mantendo a dignidade de cobrar pelo serviço. Sentei numa praça e tentei conversar com um velhinho mas não saiu nenhuma palavra. Ficamos idiotamente os dois ali e ele pensou que eu era uma criatura desprezível sem dinheiro pra pagar pipoca pros pombos. Só isso. Estou confessando: não guardei nem domingos nem feriados e não comi bacalhau na sexta-feira-santa e ainda escutei hard rock mesmo sem gostar no dia que era pra fazer silêncio, só pra afrontar a vizinha de cima. Não paguei o dízimo e gastei o dinheiro com um cd de boleros uma revistinha da mafalda um cachecol de listinhas coloridas um anel com o yin e yang que eu nunca vou usar um maço de free curto um detergente com glicerina pra não estragar muito as mãos quando tiver coragem de lavar a louçarada da pia uma caixa de band-aid redondo pra pôr no calcanhar quando usar o sapato novo um tubinho de super-bonder pra consertar o que estiver lascado um adesivo do meu time pra pôr na janela da frente e provocar o vizinho do lado um pente. Pensando bem o band-aid (peguei mania nessa coisa de tracinho) deveria ter sido do tradicional. Pensando bem a revistinha poderia ter sido de sacanagem o cachecol liso, o anel poderia ter sido do meu time o detergente um sabão em barra que durava mais, e o cigarro um pirulito que não causa dano ao pulmão, acho. Mas o pente tá bom.
Não fiz o separe em sí-la-bas não engraxei os sapatos não passei fio dental corretamente não sei o que quer dizer “inconcusso” não fui ao baile de formatura não liguei pra ninguém no ano-novo. Confesso.

E nunca amei-nos como a mim mesmo.
Brilhos que nem sempre se vê.

Tudo está entre parênteses: “diamante”, do gr. adámas, ‘indomável’, pelo lat. adamante.[13]
Só fui pra casa.
Tinha céu.
E pensei que era escritor.



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[1]Trata-se, obviamente, de deslavado plágio do título de uma música de grupo de rock’nd roll inglês que, na década de 1960, foi mais conhecido do que Jesus Cristo. Por patente falta de criatividade, o autor opera aqui uma indecorosa apropriação de uma sentença de domínio universal a qual, mesmo sofrendo a (péssima, diga-se) tradução para a nossa língua portuguesa, conforme argumenta SEIXAS (2003:195) “mantém, contudo, a condição de indisfarçabilidade autoral”.
[2] Em 25 de maio próximo passado nossa emérita crítica Annamaria Polli-Sanson publicou artigo (pequeno, quase uma notinha, alegando “desnecessariedade em tomar o tempo dos leitores”) n’A Tribuna de Curitiba atentando para o “caráter degenerativo da produção pretensamente literária” do autor deste conto. Contatos com Polli-Sanson (palestras, manhãs de autógrafo, entrevistas, chás) pelo e-mail
annitta@rapidinha.com.br
[3] Cf. THEODORO, 2003:242, para comentário sobre o uso dos artigos o/a antecedendo a palavra “personagem” quando substantivo comum de dois ou mais gêneros.
[4]Até quando está em casa, coitado.
[5]“Manjado”, gíria da década de 1970, quer dizer “previsível”; “troço” a gente nunca podia falar quando era pequeno porque era coisa de gentinha.
[6] “Costas da mão”, também referenciadas como “contra-palma”, como no exemplo: “Tira tua mão da contra-palma da minha!” (OVÍDIO, A Arte de Amar, 2003:48).
[7] Postos de gasolina ficcionalizados, não se sabe porque, “adquirem enorme carga imagética, remetendo a princípios simbólico-imanente-periféricos que exacerbam a fruição visuo-psico-estética de quem os imagina” (NEFRONNINNI, 2003:79-80).
[8] “Dean”/ “mim”, rima apoplética semi-diminuta em sentença de triambinos oxidiegéticos que caracterizam a dicção chula do autor. Aproveitamos para registrar que a palavra “referenciada”, como apareceu na nota 6 do presente, não existe no dicionário. Faça-me o favor!
[9] “Um cheirinho ruim”, conforme SYDNEY ET ALII (2003:26 a 37).
[10] Luizelena Trindade, como todos sabemos, não é uma menina. É um travesti famoso e só por descuido do autor, tecnicamente incapaz de manter o caráter histórico deste relato, está sendo citado como um ser de sexo feminino.
[11] Vemos aqui que o emprego intencional do particípio passado com conotação de ironia confere tamanha elasticidade ao espectro semântico-tônico da frase que acaba por confundir, embaraçar, obnubilar a mente do coitado do leitor, o que é lastimável, com certeza.
[12] Observar que o autor vem dando preferência ao vocábulo “tracinhos” possivelmente por não saber se o plural de “hífen” é “hífenes”, “hífens”, ou, como no italiano, “hifeni”.
[13] HOLLANDA, 2003:585.


Luci Collin (Curitiba, 1964)

terça-feira

"Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer."
( Hilst - Do Desejo - 1992)


..e blá blá blá..

Uma falsa que se enraíza!!!

sexta-feira

"I am a evil, and happy..."

[Hoje eu tomei a decisão mais bacana de todas as decisões bacanas que eu já tomei na vida.]

...and that makes me a fucking fabulous!!!

quarta-feira

15h e o tédio me arranha as coxas. Vida dura? Senta em cima!

terça-feira

Cortaram a minha luz, literalmente. Abomináveis hominídeos da Eletropaulo. Não adiantou explicar que para uma pessoa doente como eu é muita coisa, levantar cedo e trabalhar, e ainda todo mês ter que lembrar de pagar a conta de luz, pôxa todo mês! Ah, que tristeza. Minha responsabilidade é um órgão no meu corpo que suspira em dias nublados, adora petit gateau e Morrissey e ta apaixonado. Fica entre o estômago e o pulmão. Nunca ouviu falar em débito automático.
Tive que dar a bunda para ter uma religação urgente, o que foi de tudo a parte mais gostosa.

quinta-feira







ah meu coração...

terça-feira

engolida “autofagicamente” pela velocidade do tempo, meu físico que pegava fogo, ardia, tamanha a atmosfera de súbita liberdade




"Olhei com toda a gana para o fundo de seus olhos e vi que eu podia mais uma vez dentro deles navegar. Talvez eu nunca tivesse experimentado antes uma tal confiança dentro dos olhos de alguém. Eu sabia que em sua órbita eu não me perderia. Se alguma coisa ocorresse comigo ele viria de dentro dele e me salvaria. (...) Eu estava ali completamente imerso em seus olhos. (..) No desenho das órbitas eu como que dançava. Por instantes eu como que nadava em espirais submarinas. Ao vir à tona dos abismos, minha pele mostrava-se coberto de um olho azeitonado. Eu estava impregnado da massa do homem no limiar da nova vida, essa massa que nos tornava um outro, talvez um terceiro sujeito entre mim próprio e ele." (p. 155)
A máquina de ser - João Gilberto Noll







"Quando adestramos a nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde."
Nietzsche