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deschamps

Deschmps_1beto deschamps nasceu em blumenau, e é professor de literatura brasileira e francesa. seu ideário estético estabelece vínculos com a agilidade da publicidade, com a linguagem cinematográfica e, principalmente, com alguns nomes da música brasileira, como cazuza e arnaldo antunes. procura elaborar uma poesia marcada pela musicalidade singular da oralidade popular. salvo pelas letras das canções que compôs, jamais publicou.

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Prefácio desenteressadíssimo

Vai tomar no teu cu leitor!
Tu e a tua tirania.
Tu, tua tirania e a tirania do mercado consumidor.
Tu, tua tirania, a tirania do mercado consumidor, e a mais tirana das tiranias: a tirania da crítica funcionária pública com a chancela da Secretaria do Recalque e da Falta de Bom Humor.
A chancela da incapacidade do riso inteligente,
Para quem, covarde, afastou-se da possibilidade do soco
E exalta-se de haver fugido da possibilidade do soco.
Saudades dos dias em que me nutria da ração insossa da minha covardia...

Tu não entendes a minha ironia, leitor.
Nem adianta tentar,
Inútil tentar.
Tu não entendes a minha ironia.
Ela é cáustica.
Ela é ácida.
Mais afiada do que mil machados cegos empilhados,
Porque me ironiza a mim mesmo, leitor.
Nem a mim ela perdoa, essa miserável ironia.
É a mim que ela ironiza...
E,
Contudo,
Ela,
Só,
Me satisfaz.
À distância de tudo e de todos, minha ironia vira minha companheira.
E corta.
A mim mesmo ela corta.
Enquanto o fio afiado fica frio,
Filtro do riso palhaço um make-up indecente, mas sempre presente pra quem tem necessidade de um disfarce.
Tu, leitor, tão conhecido, tão cheio de amigos;
Tenta tu, leitor, tenta!
Não adianta nem tentar.
Estou te avisando.
Só pra ti tentar, estou te avisando que nem adianta tentar, leitor.
Deixa esse texto dormir o sono defunto daqueles cadáveres sem ambições literárias.
Um defunto tem mais o que fazer.
Um defunto está livre de vaidades.
Vai ler a bíblia.
Vai ler a Ilíada,
A Odisséia.
Vai ler revistas de fofocas da vida de ricos e famosos,
Mas deixa em paz esse texto.
Vai ler bula de remédio de faixa preta pra aliviar tua insanidade,
Vai ler catálogo telefônico,
Vai ler obituário de jornal, leitor,
Lê obituário de jornal.
Teu nome deve estar lá.
Tu morreu e nem te avisaram, leitor.
Telefona, leitor cretino,
Vai ver televisão, leitor cretino,
E deixa esse texto, leitor cretino,
Poupa esse texto, já tão cretino,
Poupa esse texto do excesso de peso da tua cretinice, leitor.
Vai ler placa de trânsito.
Ou melhor.
Faz melhor, leitor.
Melhor ainda.
Não lê, leitor.
Não lê.

2 comentários:

  1. Esse é dos meus. O "Vai tomar no cu" dele é de peito cheio, haha.

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  2. Como aquele enfático e sonoro ‘filha da puta’, ha uns cinco meses atrás na renato paes de barros....rsssss

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Mente que eu gosto!