quinta-feira

Estou muito compenetrada no meu pânico. Lá de dentro tomando medidas preventivas. Minha filha, lê isso aqui quando você tiver perdido as esperanças como hoje. Você é meu único tesouro. Você morde e grita e não me deixa em paz mas você é meu único tesouro. Então escuta só; toma esse xarope, deita no meu colo, e descansa aqui; dorme que eu cuido de você e não me assusto; dorme, dorme. Eu sou grande, fico acordada até mais tarde. Quero te explicar isso, te passar este quarto imóvel com tudo dentro e nenhuma cidade fora com redes de parentela. Aqui tenho maquininhas de me distrair, tv de cabeceira, fitas magnéticas, cartões postais, cadernos de tamanhos variados, alicate de unhas, dois pirex e outras mais. Não tem nada lá fora e minha cabeça fala sozinha, assim, com movimento pendular de aparecer e desaparecer. Guarde bem este quarto parado, com maquininhas, cabeça e pêndulo no coração. Fiz uma penteadeira com Bogart e Bacall, très chic. Pronto, acabei esse assunto de quartinho cultural, mas guarde bem – para mais tarde. Fica contando ponto. Choro que nem uma desapiedada no melodrama penitenciário. Fico dura com a travessia do deserto por Leslie Caron de freira sexy e Madron imbatível morrendo no final. Ataque de riso no Paris Pullman numa cena inesperada de Preparem seus Lencinhos – a falação entregando tudo pela mãe do menino que Solange seduziu. Ninguém mais ria, só eu. Dor no corpo. Inglesa chata junto, pai da Vogue, habita Costa Brava. Me lembro da bandeira. Joe anômico, a vida corre, não tem memória ele diz. Alice nice, não gosta de não ser nice. Flutuo como maluca: gosto de mim, não gosto, gosto, não gosto. Tesão pelo Luke no underground. Acalmei bem, me distraí, não penso tanto, penso a te.


ANA C.

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