segunda-feira
quinta-feira
segunda-feira
Eu queria dizer das coisas boas
De como esse final de semana mudou a minha vida, e os que antecederam me embalaram no melhor caminho, talvez não no mais fácil, mas no melhor.
Que eu me sinto acolhida hoje pelo tempo, e pelo amor entusiasmada. E que eu me sinto forte, sem mais nada, apenas forte.
Com meus amores. Com um caminho. E com a liberdade de um caminho.
Limpa de uma dor suja.
Dona Flor e Dono Flor
eis a culpa dessa minha cara florida!
sexta-feira
quarta-feira
descompromissadas donas de si e meigamente devassas
ai
nem sei se meu coração de merda aguenta a violência de toda essa beleza
deve ser porque tudo em ti tem vida própria
dos cachos aos pés
mesmo que vestidos
ainda nus e feéricos
você é o meu instinto com vida pernas e um outro destino
você é.
terça-feira
segunda-feira
terça-feira
Tudo novo de novo!
Esse é um post de Ano Novo, mas eu faço tipo de garota urgente, ansiosa, já de sorriso pronto e largo pra cruzar a linha do tempo, de todo esse tempo.
* ah! e hoje eu ganhei um presente com dedicatória de melhor amigo, o que contribuiu logicamente, em larga escala, com a minha safada felicidade.
segunda-feira
Eu tinha quinze, e um buraco de flores no peito
Uma folha em branco e o ovo apunhalado de capa negra, colado no corpo. carnal
Eram só quinze anos e eu já não me pertencia
uma ausência absurda mais em mim do que em toda aquela gente
Eram só quinze horas e todo o peso do mundo
o que pulsa sanguinário no teu peito nunca passa.
quinta-feira
ANA C.
quarta-feira
Bukoswki tava roxo de razão, o amor é um cão dos diabos. Então eu to em casa de navalha na mão e.
sábado
deschamps
beto deschamps nasceu em blumenau, e é professor de literatura brasileira e francesa. seu ideário estético estabelece vínculos com a agilidade da publicidade, com a linguagem cinematográfica e, principalmente, com alguns nomes da música brasileira, como cazuza e arnaldo antunes. procura elaborar uma poesia marcada pela musicalidade singular da oralidade popular. salvo pelas letras das canções que compôs, jamais publicou.
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Prefácio desenteressadíssimo
Vai tomar no teu cu leitor!
Tu e a tua tirania.
Tu, tua tirania e a tirania do mercado consumidor.
Tu, tua tirania, a tirania do mercado consumidor, e a mais tirana das tiranias: a tirania da crítica funcionária pública com a chancela da Secretaria do Recalque e da Falta de Bom Humor.
A chancela da incapacidade do riso inteligente,
Para quem, covarde, afastou-se da possibilidade do soco
E exalta-se de haver fugido da possibilidade do soco.
Saudades dos dias em que me nutria da ração insossa da minha covardia...
Tu não entendes a minha ironia, leitor.
Nem adianta tentar,
Inútil tentar.
Tu não entendes a minha ironia.
Ela é cáustica.
Ela é ácida.
Mais afiada do que mil machados cegos empilhados,
Porque me ironiza a mim mesmo, leitor.
Nem a mim ela perdoa, essa miserável ironia.
É a mim que ela ironiza...
E,
Contudo,
Ela,
Só,
Me satisfaz.
À distância de tudo e de todos, minha ironia vira minha companheira.
E corta.
A mim mesmo ela corta.
Enquanto o fio afiado fica frio,
Filtro do riso palhaço um make-up indecente, mas sempre presente pra quem tem necessidade de um disfarce.
Tu, leitor, tão conhecido, tão cheio de amigos;
Tenta tu, leitor, tenta!
Não adianta nem tentar.
Estou te avisando.
Só pra ti tentar, estou te avisando que nem adianta tentar, leitor.
Deixa esse texto dormir o sono defunto daqueles cadáveres sem ambições literárias.
Um defunto tem mais o que fazer.
Um defunto está livre de vaidades.
Vai ler a bíblia.
Vai ler a Ilíada,
A Odisséia.
Vai ler revistas de fofocas da vida de ricos e famosos,
Mas deixa em paz esse texto.
Vai ler bula de remédio de faixa preta pra aliviar tua insanidade,
Vai ler catálogo telefônico,
Vai ler obituário de jornal, leitor,
Lê obituário de jornal.
Teu nome deve estar lá.
Tu morreu e nem te avisaram, leitor.
Telefona, leitor cretino,
Vai ver televisão, leitor cretino,
E deixa esse texto, leitor cretino,
Poupa esse texto, já tão cretino,
Poupa esse texto do excesso de peso da tua cretinice, leitor.
Vai ler placa de trânsito.
Ou melhor.
Faz melhor, leitor.
Melhor ainda.
Não lê, leitor.
Não lê.
sexta-feira
me mata de beleza..
de pureza corrompida de riso dolorido
e me mata sempre mais até que não me reste nada,
só sal de suor e vertigens.
de novo inacabada em oito linhas.
"...em prontidão sangüinária
(sangue e amor se aconchegando hora atrás de hora)"
terça-feira
segunda-feira
quinta-feira
De agora em diante, ou por um tempo...Eu só escrevo pra mim e não mais para os outros... essas palavretas toscas são exclusivas para mim mesma, pra ver se me alcanço.Porque tantas coisas têm me doído e eu não quero mais expor nada, quero voltar a ser o mistério que sempre fui. Sem ninguém espiando uma lágrima que seja. Um sorriso.
Eu quero ser só minha de novo.
quarta-feira
Eu já escreví isso antes, quase como uma premonição...ou será um jogo de azar!? (Porque alguém aqui vai se danar!)
..em que eu sou um grande monstro, e você a pequena aprendiz, aprendiz de merda, diga-se de passagem, leia isso como um desabafo.. de quem anda cheia desse tipo de capricho de menina que não sabe o que quer, que brinca com fogo e se queima fácil.
Eu sei bem do que eu quero, eu sei bem o que eu tenho. E você? Tá querendo o que eu tenho?
Aliás, o que vocês querem de mim? Me ferrar o coração?
segunda-feira
Faz um tempo que tento escrever pra você, mas nunca acontece... porque ando brecando demais em dizer as coisas.
...como se o que deve ser dito se agarra em mim com unhas e dentes, e forçar a saída até dói.
E eu penso em te fazer tantas promessas impossíveis
Queria com um simples toque de mãos te dar a exata idéia de como corre meu coração, da solidão quente que sinto com meu corpo sobre o teu, por te saber minha eu queria Mais, me apoderar da tua alma como o diabo se apodera, me misturar no teu sangue ate que você não enxergue mais nenhum outro rosto sombrio além do meu. E eu me perco, me puno, esqueço meu próprio traço, porque o amor ocupa todo o espaço e me consome, inquisitor me queima cheio da santa perversidade, como uma maldição. Uma bela maldição.
eu queria ser o que te salva e o que te mata...
o que te leva lá...
perditione
terça-feira
sexta-feira
Que eu estou precisando dos teus caprichos. Hoje que estou precisada de você. Eu sei, nós somos dois estranhos, mas senta do meu lado que eu acordei cheia de humanidades. Senta do meu lado que hoje eu não quero que você morra nunca mais. Acho que virei santa. Mas toda santa senta. Tô salva!
quinta-feira
Mas o que eu queria dizer mesmo é que tive um sonho muito crazy essa noite, o mundo estava dominado por um vírus brutal e letal e muito malvado, era o armagedon em toda sua sinceridade, era mesmo, com bolas de fogo e tudo mais, e eu jovem donzela, dava uns amassos em outra nada jovem donzela, que por acaso trabalha na mesma empresa que eu e nunca me olhou nas fuças, isso no chuveiro de um banheiro qualquer do planeta, e ela já estava infectada pelo vírus fanfarrão. Vai ver por isso de casta ficou meio putona (com todo respeito). E eu acordei no susto. Enfim.
quarta-feira
E eu imagino se um dia a gente se perde, se um dia a gente se descruza e não dobra na mesma esquina. O que fica de mim nele além do balanço dos braços?
terça-feira
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 16:03Para: 'Ronzi Zacchi'Cc: 'Dani Oliveira'Assunto: RES:
Já ví que tu-do virou peixe.
Ad verbum ab absurdo.
Continuo com sete pedaços da semana. Fin.
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:55Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
É de feicheclaires fechados pelo fecho. Feixe.
Povo. Persona. Citizen, Kane! No final Rosebud é mais que botão de rosa. Ninfo.
Secreto é segredo, não conta, senão perde a graça.
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:40Para: 'Ronzi Zacchi'Cc: 'Dani Oliveira'Assunto: RES:
Tua saia é de zíper?!
Rosa é outra coisa, vc tá chamando o povo de outra coisa que eu não posso dizer o nome senão não é mais outra coisa e precisa continuar sendo sido. É secreto mas não é segredo. Citzens é sentar? Senta no povo!!! Senta o caralho no povo que o povo agora é rosa!!! Do gozo eu ñ vou falar.
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:33Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
Bacanal safado. Coisa de gatos noturnos sedentos, os diurnos sempre com sua velha violha vermelha no saco.
Rosa é o povo, moleculas agrupadas em torno daquilo que se chama cidade. Citzens citados sitiados.
Segredo secreto é guardado a um, e gozo bem gozado necessita mais de.
Se descruzar abre o zíper.
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:25Para: 'Ronzi Zacchi'Cc: 'Dani Oliveira'Assunto:
Mas onde estarão os diurnos? Cada um tocando a sua tuba, coisa de bacanal safado.
Irônico é uma enzima subatômica, dessas usadas na Hiroshima. Depois tudo vira rosa.
As causas das minhas palpitações são mais do que palpites, o que me enfarta é secreto e faz gozar.ha!
Palpita deve ser salada mexicana temperada com tequila e pouca pimenta dependendo do chef palpitador.
E vc Rosi descruza essas pernas.
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:16Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
Gente entubada são os gatos noturnos tocadores de tuba?
camaleão, cama-leão, no teu teu verbo pra lá de irônico
Creio que palpitar sobre ninfas, é a causa de tuas palpitações.
Mas tudo isso é só um palpite sobre quem palpita
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:11Para: 'Ronzi Zacchi'Cc: 'Dani Oliveira'Assunto: RES:
Gente encanada é literalmente entubada?
Gente que vive na cama deve ser camaleão, ainda mais se essas gentes forem muito bravas.
Sobre as ninfas eu ñ posso mais palpitar. Só palpitar e palpitações.
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 15:06Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
Gente cheia de cana:
- Gente encanada
- Gente que vive na cama
Ninfo-diálogo:
- Diálogo sobre ninfas
- Diálogos sobre tara
- Diálogos sobre diálogos
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:55Para: 'Ronzi Zacchi'Assunto: RES:
Gente Acanalhada:
-Gente achanhada.
-Gente cheia de cana.
Ninfo-diálogo:
- gente dandy
-gente flanante
-gente falante
-gentes!
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:52Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
Ninfo diálogo para gente acanalhada
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:51Para: 'Ronzi Zacchi'Assunto: RES:
Ninfo diálogo! rssss
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:50Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
Linfo diálogo esse
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:49Para: 'Ronzi Zacchi'Assunto: RES:
rssss
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:48Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
hã?
De: Betina Sulzbach [mailto:betina.sulzbach@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:47Para: 'Ronzi Zacchi'Assunto: RES:
Há he hi ho cú!
De: Ronzi Zacchi [mailto:ronzi.zacchi@.com.br] Enviada em: terça-feira, 16 de outubro de 2007 14:45Para: 'Betina Sulzbach'Assunto: RES:
comentei cretina
Parafrasear mais do que livremente o teu corpu torto beauty . morena-tudo-bem. Continua isso porque são nos teus cantos obscuros dark que me guardo como presente inflamado lustrado embalado com laço vermelholove. Como o amorfetiche da puta.
Então me abre toda como tua caixa secreta de pandora. que eu destruo e construo o que circula. A grande roda in gear.
segunda-feira
Canção de Amor da Jovem Louca
I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)
The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)
God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.
I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)
I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)
quinta-feira
quarta-feira
Por pudor sou impuro. Do lugar onde estou já fui embora.
"As coisas que não existem são mais bonitas"
Felisdônio
I
Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.
II
Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.
III
Repetir repetir - até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.
IV
No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.
V
Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.
VI
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
VII
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.
VIII
Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
X
Não tem altura o silêncio das pedras.
XI
Adoecer de nós a Natureza:
- Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).
XII
Pegar no espaço contigüidades verbais é o
mesmo que pegar mosca no hospício para dar
banho nelas.
Essa é uma prática sem dor.
É como estar amanhecido a pássaros.
Qualquer defeito vegetal de um pássaro pode
modificar os seus gorjeios.
XIII
As coisas não querem mais ser vistas por
pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul -
Que nem uma criança que você olha de ave.
XIV
Poesia é voar fora da asa. XV
Aos blocos semânticos dar equilíbrio. Onde o
abstrato entre, amarre com arame. Ao lado de
um primal deixe um termo erudito. Aplique na
aridez intumescências. Encoste um cago ao
sublime. E no solene um pênis sujo.
XVI
Entra um chamejamento de luxúria em mim:
Ela há de se deitar sobre meu corpo em toda
a espessura de sua boca!
Agora estou varado de entremências.
(Sou pervertido pelas castidades? Santificado
pelas imundícias?)
Há certas frases que se iluminam pelo opaco.
XVII
Em casa de caramujo até o sol encarde.
XVIII
As coisas da terra lhe davam gala.
Se batesse um azul no horizonte seu olho
entoasse.
Todos lhe ensinavam para inútil
Aves faziam bosta nos seus cabelos. XIX
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
XX
Lembro um menino repetindo as tardes naquele
quintal.
XXI
Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais
ou no Viterbo -
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc.
Etc.
Etc.
Maior que o infinito é a encomenda.
terça-feira
sexta-feira
Et cetera
Desassossego como estado permanente. Bota a mão no peito me devolve essa coisa.
Toda semana eu me perco de um ângulo diferente. Angulosa.
Lá no começo palavra primitiva mais prefixo.
Brevis esse laboro, obscurus fio!
quinta-feira
Senhora dona escriba.
Nada se move han. Nem eu, nem você. Nem o batman e sua capa negra. Por hoje.
terça-feira
segunda-feira
E não é sempre que vais ver alguém que é um, feito de três, assim a tua frente, não é sempre que vais ver alguém contando trifling things com tanta maestria e com maior gozo..
Assim ísis, infinitas arestas, porque vês a mim com adãoeva, dúplice sim, tríplice sim, multifário, multifídio, multífluo, multisciente, multívio, multíssono, aí sim, principalmente multíssono.
Deus: ai que proposições me propuseste!
quarta-feira
folhas em branco não me oprimem mais.
Que você conheça este relógio sem nuvens, chamado morte, dependurado no planeta.
Ganimedes 76
Teu sorriso olhinhos como margaridas negras
....................meu amor navegando na tarde
batidas de pêssego refletindo em seus olhinhos de
....................fuligem
cabelos ouriçados como um pequeno deus de salão
....................rococó
força de um corpo frágil como âncoras
gostei de você
eu também
amanhã então às 7
amanhã às 7
tudo começa agora num ritual lento & cercados de
......................gardênias de pano
Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
......................dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem
Abra os olhos e diga ah! (1976)
segunda-feira
amour malsain
no teu jeito de caminhar
em toda tua lisura desinteressada..
no encaixe quente das tuas pernas eu sou só amor doentio
quarta-feira
Estudo da Narrativa Confessional, ou Prosa Poética Desvairada.
Cara Professora Celise,
Com o passo pesado fui pra casa hoje decidindo a vida, e durou quinze minutos até eu me perder em opções impossíveis, terminei dois livros e não sei de mais nada, ou sei que quero continuar rabiscando e empurrando com a barriga para ver onde vai dar pé, na verdade nem quero ver o tal do pé porque ando com um medo descomunal de me mexer de mim mesma, ou é a preguiça que nasceu comigo e que se confunde com meu nome. Preguiça e urgência, meus dois pólos de conflito que se amam, e eu não amo mais as coisas que eu amava e dei vários passos pra dentro do escuro do poema e nele agora eu me mantenho quente, já querendo mudar a direção. Como sempre me coloco inteira reticente e reticências, cheia de um vazio de várias coisas e de uma coisa só procurando voz e canal pra sair e povoar o mundo como pedra milenar em queda no abismo. Povoar o mundo com meu DNA loiro e torto de vida e deslumbre. Descobri que meu eu profundo cheira a grama molhada, e esse meu eu, que agora não é mais Eu, saiu pra comprar cigarros e nunca mais voltou, um de nós ficou com a Determinação, e creio que não foi Eu. Isso é crise de ócio e vontade de romance. Cadê o meu ray-ban? Atrás dele eu escondo minha multidão.
“ta pensando em quê?
Na vida da gente, Eulália.
E não ta boa, Tiu?
Se ao menos eu conseguisse escrever.
Escreve de mim, da minha vida antes de eu te encontrar, da surra que o Zeca me deu, da doença quele me passou, da minha mãe que morreu de dó do meu pai quando ele pôs o fígado inteirinho pra fora, do nenê queu perdi, do Brasil ué!
Escrevo sim, Eulália, vou escrever da tua tabaca, do meu bastão.
Não fala assim benzinho, só quero ajudá.
Deita-se de bruços, chora um pouco, depois soluça, aí pego a pena de papagaio, uma daquelas com pluminhas verde-amarelas, e assoviando o hino nacional vou espenando sua bundinha, espeto a pena no anel, devagarinho vou alisando a lombada das nádegas, e Eulália se ergue e se arreganha lassa, então vou entrando na mata e deixo as polpas pra pena, bonito ali enfiado, gozo grosso pensando: sou um escritor brasileiro, coisa de macho, negona.
Vamos lá.”
terça-feira
segunda-feira
O amor se me vê passar manda beijos...
sexta-feira
Vive uma ternura em mim, latente...afogada às vezes em água limpa, quase abençoada.
terça-feira
nenhum insight, só tormenta... e música nos lábios querendo te desenhar.. hoje mais do que comprovado que todo meu processo amoroso e apaixonoso nasce nas víceras, nas minhas, claro. então saborosa garota, meus mais nobres sentimentos à senhorita: fofísse, taradísse, ciumísse e raivísse, bem na boca do meu orgão sexual estomacal às avessas. acordei anti: comunista-socialista, hoje também não gosto de gente-dançarina que rodobaila na curva. com sorriso lá nos andes me espreguicei achando bomba atômica idéia maravilhosa.
Oh, but hold it still, darling, your hair is so
prettyCan't you feel the warmth of my
sincerity?
segunda-feira
Dizem que é Sozinho no mato que se enfrenta os piores medos.
sábado
terça-feira
segunda-feira
sexta-feira
segunda-feira
Foram nove meses jurando amor ao pé do teu ouvido.
Curiosos olhos negros.. com brilho de quem chegou na vida à pouco, e eu encantada com ela..com o coração que ela carrega nos lábios. Tão frágil e tão poderosa que eu daria a minha vida de presente para aquelas mãos pequenas segurarem com força. De mim ela e a mãe arrancam qualquer pedaço. E ela tem quatro dias mas já sabe disso.
E eu me preocupando com besteiras..enquanto o inalcançável me alcança. Enquanto a vida vem me tocar o olhos e a boca. O que eu sinto faz vibrar a casa e se espalha no ar como perfume...pra chegar só nela.
sexta-feira
quinta-feira
O fruto limpo e cercado de cuidados, de um amor sombrio, amor de quem sai de si para se dar, para ir ao outro. Amor de quem transcende. Amor amor amor...nenhuma outra forma de capricho.
De repente felicidade.
terça-feira
Política IV
segunda-feira
au revoir! arrivederci! αντίο! good bye! adiós! auf wiedersehen!
Então sejamos, terrivelmente.
Então serei terrivelmente, melhor.
sexta-feira
'Tanto faz' de Reinaldo de Moraes - o namoradinho da AnaC!
"Agora, o que eu queria mesmo é uma literatura que fosse, como Torquato Neto, até a demência. E ficasse, como Chacal, entre o play-ground e o abismo. E tivesse a peraltice e o lirismo de Oswald. E o sabor coloquial do Mário de Andrade. Nem confissão, nem ficção. Conficção. Nem obra acabada, nem obra aberta. Obra à-toa".
...Vamos lá. Vamos entrar nesse boing, romance debaixo do braço, otimismo arrepiado, o que iar eu traço, 'eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida" (Clarice Lispector). Tive um sonho roxo outro dia, acordei berrando: manhê! Cada vez menos palavras, cada vez mais frases. Olhar. Cochilar na rede co’a brisa bolindo nos pêlos do peito da gente. Abrir o olho e constatar que a noite baixou. Assobiar com os lábios molhados de cerveja. Nos olhos das mulheres mais lindas Narciso se vê refletido; por isso a beleza não o devora. Coxa na coxa, dançar um bolero de pilequinho. Esvaziar os copos, encher as amizades. Trinta anos e um romance no saco plástico. Saudades daquelas cinco horas da tarde. Literatura, a possibilidade de mentir por escrito...
quarta-feira
ela me disse que passou noites sem dormir em busca da pergunta e eu me impressionei
ela vive me impressionando assim literalmente a vida dela tão do lado da minha
terça-feira
Jolene...
Well Jolene unlocked the thick breezeway door
like she'd done one hundred times before
Jolene smoothed her dark hair in the mirror
she folded the towel carefully and put it back in place
yeah I want to pull you down into bed
I want to cast your face in lead
well every time I pull you close
push my face into your hair
cream rinse and tobacco smoke
that sickly scent is always, always there
yeah yeah
Jolene heard her father's uneven snores
right then she knew there must be something more
Jolene heard the singing in the forest
she opened the door quietly and stepped into the night
yeah I want to throw you out into space
I want to do whatever it takes, takes, takes
well every time I pull you close
push my face into your hair
cream rinse and tobacco smoke
that sickly scent is always, always there
segunda-feira
terça-feira
segunda-feira
O fato é que depois de um tempo, que na verdade não é muito tempo mas também não é pouco tempo. Aconteceu o encontro.
Mas foi um tempo suficiente pra me sumir a ansiedade, e ficar a perplexidade, ou o estarrecimento ou...não vou achar nada comparável. Seria o conceito de estranho.
E é claro que as 'bases' tremeram, não por insegurança, mas por fantasia, por imaginação.
E eu me superei paralizada. Porque ela veio me sorrir, veio sim. E eu não consegui me mover de mim, ela na minha frente e eu comentando a idiotice homérica de que ela cresceu, "no inverno as pessoas diminuem e no verão elas crescem"... isso logo depois de uma conversa calorosa sobre átomos e partículas e transmutação e física quântica com o querido amigo meu... e quando eu recuperei a consciência da idiotice que eu havia dito pensei seriamente em me esconder no meio daquele simpático arbusto no centro do jardim, o que me parecia no momento ser o lugar ideal para minha pessoa, pensei também em fingir que estava bêbada e fora de mim, mas eu visivelmente estava sã. E ela saiu correndo antes de eu tomar qualquer atitude...
Agora me diga como eu consegui essa proeza!? Não que houvesse muita coisa importante a ser dita, apenas amenidades agradáveis e sorrisos tenros e olhares carinhosos e claro, as novidades, porque foi isso que nos propusemos.
Estranhezas a parte, o que eu queria mesmo te dizer é que você continua bonitamente bonita...
e sempre enigmática pra não me perder o encanto.
quinta-feira
Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
AnaC.
terça-feira
Flecha Negra
Até hoje só uma pessoa soube como fazer isso com muita classe e com muito charme, ou ao menos o charme exato pra me encantar. Charme de malabarista: hoje eu não posso, amanhã eu não quero mas relax...é inevitável encontrar as pessoas na Heavy Sampa Gotancity. Muito inevitável depois de alguns anos. Mas por favor deus que eu não encontre...isso quebra qualquer clima...boas musas devem se manter longe-quase-perto. A questão meu querido curioso é: perto demais me inspira poucomuitopouco, faço o tipo ficcional me ame e me perca. Prefiro não me odeie e finja que me ama. Ela não me odeia, ela não me ama e ela me permite na minha mentira mais cabulosa ‘sofrer’ pelo amor que a gente não teve, e isso só funciona com ela. Todo escritor precisa de uma musa, ou todo otário. Eu tenho a mais competente delas...ahh Flecha Negra, tua indiferença me faz sentir mais viva!
quinta-feira
“minto enquanto posso nego tudo”
“leva! Leva meu coração que ele já está pesado de sentir”
quarta-feira
E eu dividi os meus malditos com alguns e egoísta agora me arrependo, como se ela não fosse mais minha – como se o que eu sinto sobre AnaC não fosse mais meu, arrancado como um braço. Impossível de me voltar, incomoda.
terça-feira
quinta-feira
Ternura só de palavra já é bonitinho. De estufar o peito!!
Todo mundo devia adorar alguém sem interferir na vida desse alguém. Todo mundo devia ter uma musa! E baby....
deve ser a primeira vez que te escrevo...assim tão só pra você.
terça-feira
sexta-feira
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ANOTAÇÕES INSENSATAS
quarta-feira
escreve pra dentro, nada no papel.
" vou tomar um café, o mundo já acabou "
sexta-feira
mais uma vez eu venho lhes dizer que as palavras aqui publicadas são apenas palavras! Filosófico!
isso mesmo, é tudo mera coincidência. não se encaixem, mas não se retraiam. não se doam porque eu me apoderei da Dor e do Drama do mundo por pirraça, ou doam baixinho enquanto eu dôo alto grande e nada claro (ui).
Gente! to brincando! é tudo tudo mentira fingimento bliss que dá e passa. viu?
quinta-feira
terça-feira
E ela disse ‘me leve aos píncaros isso podia ser um romance’... podia mesmo, o romance te cai bem.
sexta-feira
"[texto] é a materialidade. Você achar que aquilo esconde uma outra coisa... Não acredito que esconda, acho que a poesia revela , pelo contrário. Ela não esconde uma verdade por trás ou uma via íntima por trás. Mas é também a dificuldade de quem produz, quer dizer, sempre, quando você escreve, tem sempre uma história que não pode ser contada, entende, que é basicamente história, a história da nossa intimidade, a nossa história pessoal. Essa história, ela não consegue ser contada. Se você conseguir contar a tua história pessoal e virar literatura, não é mais a tua história pessoal, já mudou. (...) O que é a literatura, o que é poesia, o que não é? O que é isso de literatura? Que texto maluco é esse , que conta e, ao mesmo tempo, não conta, que tem um assunto e, na verdade, não tem um assunto e é diferente do nosso discurso usual, que é diferente da correspondência, que é diferente do diário? Mesmo que eu pegue um diário, como tentei fazer, mesmo que eu pegue um diário e coloque ali como literatura, mesmo assim continua a haver uma história que não pode ser contada. É um tormento e, de repente, é engraçado também. Você não pode contar..."(César, 1999: 262).
As letras e a vida fazem rizoma em sua heterogeneidade: não há imitação nem semelhança, só atropelos e gagueiras e cortes. Abandona-se a metafísica da representação, afirma-se a fissura metafísica incorporal e estabelece-se uma relação de exterioridade entre o pensamento e a verdade: "Como se o único alívio fosse imaginar uma grande literatura que as arrebatasse e arrebentasse [as pessoas], um texto que já nascesse impresso e divulgado direto da minha cabeça para a úlcera dos outros" (César, 1999: 165). A literatura como empreendimento de saúde. Qualquer coisa assim como...
A MÁQUINA DA ESCRITA de Ana Cristina Cesar: afirmação da fissura nas bordas da produção de sentido.
quarta-feira
nevermind...
terça-feira
segunda-feira
"De: "Dani Oliveira"
Para: betinasuper@yahoo.com.br
Assunto: Re: Top 5 feriado
Top 5
5º lugar B Chorando nos 300
4º lugar B Chorando no Não por acaso
3º lugar B Falando Falando Falando sem parar
2º lugar B Fazendo a paradinha mais gay q já vi
1º Lugar (com honras)
B Gritando com os braços pra cima “to doido to doido”
Menção honrosa
B com o joelho zuado por muito sexo"
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vê se aprende, se desprende
Só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto!
sábado
sexta-feira
quarta-feira
I'm so tired of playing, Playing with this bow and arrow, Gonna give my heart away, Leave it to the other girls to play, For I've been a temptress too long. Hmm just, Give me a reason to love you, Give me a reason to be, A woman, I just wanna be a woman. From this time, unchained, We’re all looking at a different picture, Through this new frame of mind, A thousand flowers could bloom, Move over, and give us some room. Yeah, Give me a reason to love you, Give me a reason to be A woman, I just want to be a woman. So don't you stop being a man, Just take a little look from our side when you can, Sow a little tenderness, No matter if you cry. Give me a reason to love you, Give me a reason to be, A woman, It's all I wanna be is all woman. For this is the beginning of forever and ever, It's time to move over , So I want to be. I'm so tired of playing, Playing with this bow and arrow, Gonna give my heart away, Leave it to the other girls to play. For I've been a temptress too long. Hmm just, Give me a reason to love you
terça-feira
Revista Cult - Junho.
"Uma análise do novo efeito Quero ser John Malkovich
Por Mark Dery
Por que blog? Primeiro problema: a palavra em si perde somente para "org" na sua estupidez mortificante. Blog soa como um híbrido infeliz de blob e flog - uma fusão para algum novo fetiche viscoso que seria melhor não descrever. É, eu sei que quer dizer "diário na Internet"/ weblog, mas, afinal, quem é que chama isso de "diário de bordo", a não ser homens adultos usando orelhas pontudas (tipo Mr. Spock) e que começam cada registro em seus diários com datas estelares?
Segundo, há sempre o medo angustiante de que qualquer um que tenha um blog esteja fadado a se tornar um daqueles "Alpha Nerds"1, que deram a esse meio de comunicação uma péssima reputação - você sabe, aqueles auto-intitulados "Mestres de Seus Próprios Domínios"2, cujas prosas maçantes, senso cósmico de sua própria importância e uma estranha recusa em usar contrações (gramaticais), fazem eles parecerem a prole geneticamente engendrada de Ted Koppel3 e Charlton Heston em Os Dez Mandamentos. E daí se eles conseguem mais acessos que Deus? Você gostaria de ficar preso na classe econômica de um vôo transatlântico perto de um desses "Mestres do Universo", cheio de estilo próprio, e com opinião formada sobre tudo?
Pois é, eu sei que o blog é nossa última e grande esperança4 para um jornalismo cidadão - para nos apoderarmos do modo de produção5 e falarmos a verdade aos poderosos sem trocar de roupa por dias a fio. Mas, santo Deus!, por que a maioria dos porta-estandartes da revolução tem que ser tão repulsivamente obcecada por tecnologia? Por que a maioria dos retóricos do poder, que se tornaram os garotos brancos furiosos dos blogs, parecem como se, há poucos anos apenas, estivessem matriculados no Instituto de Linguagem Klingon6, felizes da vida? Será que é mera coincidência que o título de um dos longos trabalhos publicados que deram origem aos blogs, escrito por John Hiler - Jornalismo Cibernético: Nós Somos os Blogs. O Jornalismo será Assimilado - seja uma alusão à Jornada nas Estrelas: A Próxima Geração?
Então, por que blog? Com certeza, não é porque o blog esteja fadado a engolir toda a grande mídia, e regurgitar a gravata borboleta de George Will7. A melhor coisa sobre o blog não é ser um "jornalismo cidadão"; é que não é jornalismo. É claro que o blog, enquanto jornalismo de base pode servir como corretivo aos pontos nebulosos ideológicos e à orientação comercial do monopólio da mídia corporativa, verificando a veracidade dos conteúdos veiculados8, e restaurando algum traço de equilíbrio daquilo que é repassado como informação hoje em dia.
Mas os "blogueiros" que realmente desejam remediar os males que afligem o monopólio da mídia corporativa deveriam pegar algumas dicas no site Back-to-Iraq.com, de Chris Allbritton, e arrastar seu corpos precoces, cheios de tubos e fios, para fora de seus casulos mecânicos tipo Matrix9, e fazer uma maldita reportagem, em vez de comentar o comentário10 sobre o que foi publicado no site Instapundit sobre a reportagem no Daily Kos sobre a reportagem no Little Green Footballs sobre o último ato de alta traição da Vasta Conspiração da Mídia de Esquerda11. É a síndrome da tartaruga Yertle12: supostos especialistas empilhados sobre supostos especialistas, até o chão e, embaixo da pilha, o humilde repórter que desencadeou todo o frenesi da intertextualidade: o repórter que ousou se aventurar para fora da câmara de vácuo da mídia para coletar algumas amostras de Fato Real Reportado.
Quem pode contrariar o apelo de Dan Gillmor por um jornalismo mais democrático, uma alternativa descentralizada à consolidação maciça do horror murdochiano, que passa por informação midiática nos Estados Unidos? O problema é que "blogar" demais - pelo menos os blog-nerds de quem a mídia parece estar falando, quando fala de "blogueiros" - fica muito parecido com a turma que já governa o universo midiático. Com poucas e honrosas exceções, o suposto analista político e os "blogueiros" midiáticos com os maiores acessos representam praticamente farinha do mesmo saco: o mesmo cabelo com gel e olhos vivazes, fazendo carreira atiçando fogo em fantoches de palha em Scarborough Country e Sean Hannity; as mesmas figuras que se atacam e se esbofeteiam até ficarem estrábicas nos programas Firing Line e do canal Fox News; os mesmos "analistas das notícias" das grandes redes midiáticas - "Mestres do Universo" sentados em suas poltronas13 - que se acham qualificados para discorrer sobre qualquer assunto, por mais esotérico que seja.
Será esta a revolução de baixo para cima e de muitos para muitos que nos foi prometida? Outra ditadura do "comentarismo"? Não para mim, obrigado! Você pode empilhar os seus Instapundits14, como lotes de madeira, que mesmo assim ainda não terão a autoridade empírica ou dignidade moral, sem mencionar as pérolas literárias da velha e durona escola de um único repórter-blogueiro como Chris Allbritton. E Allbritton não está só. Pense na carta contundente, direto do âmago do repórter de guerra Kevin Sites15, para o batalhão de fuzileiros junto ao qual foi destacado como jornalista independente - e num dos soldados que ele filmou executando um iraquiano gravemente ferido, e aparentemente desarmado, com um tiro na cabeça.
Não é que o blog tenha que trazer de volta os relatos terríveis das zonas de batalha, a fim de poder se justificar. Alguns dos melhores blogs oferecem um Mundo Bizarro16 como alternativa à grande mídia. O seu conteúdo não é determinado por formadores de opinião, que dizem o que você deve saber, ou por editores que querem vender sua atenção para anunciantes que querem uma fatia do seu nicho demográfico. Em contrapartida, eles dizem o que nem você mesmo sabia que deveria saber. Alguns dos meus blogs favoritos reclamam para si a promessa radical inerente à noção de um diário online: eles deixam o passante casual dar uma espiada nos pensamentos mais recônditos de um estranho, enxergando o mundo através dos olhos de outra mente. É o que eu chamo de efeito Quero Ser John Malkovich17.
Alguns dos blogs mais consistentemente esclarecedores e de entretenimento são produtos inescrutáveis de mentes borderliners. Blogs como bOING bOING, The Obscure Store, Kottke.org, e Die Puny Humans são uma miscelânea de tudo, repletos de tudo que chame a atenção da imaginação de seus curadores excêntricos. Ler esses blogs é como fazer uma subscrição para o fluxo de pensamento de alguém; é a coisa mais próxima que temos da telepatia. O que tem a ver entre si um par de matemáticos usando 25511 pontos de crochê para representar a equação de Lorenz, uma lista de "palavras que não estão no dicionário, mas que deveriam estar" (exemplo: " sarchasm (subst.): O abismo entre o autor de criações sarcásticas e a pessoa que não o entende"), e fotos de "arquitetura de salada chinesa"? Nada, a não ser pelo fato de que chamaram a atenção de Jason Kottke, do site Kottke.org, mesmo que por pouco tempo.
Já imaginou o que seriam as notícias matinais se fossem editadas por Groucho Marx e Charles Fort18? Não é preciso mais imaginar: enquanto estou escrevendo, o grupo do blog bOING bOING publica uma nota informando que sacerdotes maias decidiram exorcizar os maus fluídos deixados pelo presidente Bush, quando em visita ao sítio sagrado de Kakchiquel, na Guatemala; uma foto de um relógio de bolso russo lindíssimo, todo feito em madeira, em l900; e outra foto de um lustre feito de ursinhos de goma, "tão delicioso quanto translúcido"!
Com tanta glicose para o cérebro em nossas dietas da informação, será que a contínua insurgência no Iraque e os horrores caligulianos19 da administração imperial de Bush nos seus últimos dias ainda têm alguma importância? Com certeza. Foi por isso que Deus criou The Nation, The Guardian e (insira aqui a sua fonte confiável de informações radicais). Mas eu quero viver num mundo em que a mídia que luta pelo apelo de massa, e veste sua responsabilidade social com a mesma consciência da importância que Darth Vader atribui ao uso de sua capa, tenha como contraponto os microcanais, cuja programação reflita os caprichos individuais - os gostos e interesses de uma única mente inteligente que não dá a mínima para a fatia de mercado ou para a aclamação popular (ou mesmo pela aclamação crítica...).
É claro que nem todas as idéias merecem sequer um minuto de nosso precioso tempo, aquilo que os marqueteiros gostam de chamar de "a economia da atenção". Mesmo assim, esses blogs-fluxos-de-dados-da-consciência que realmente merecem nossa atenção oferecem uma alternativa estimulante à grande mídia voltada para o anunciante e testada pelo mercado. Eles conseguem ser totalmente idiossincráticos e, ao mesmo tempo, reconfortantemente familiares - são monólogos íntimos que o resto do mundo pode ler. Considere um blog como o de Kottke. As pessoas não o lêem porque estão interessadas nos temas que ele cobre, por mais fascinantes que sejam, como freqüentemente o são, e, sim, antes de tudo, porque querem estar na primeira fileira para assistir aos filmes projetados no interior do seu cérebro. Ler blogs como este é o equivalente intelectual das experiências de Beaumont em fisiologia gástrica, ao observar por um orifício a digestão no estômago de um soldado ferido.
É genial!
Mark Dery é crítico cultural e autor de The Pyrotechnic Insanitarium: American Culture on the Brink. Leciona crítica dos meios de comunicação e jornalismo literário na Universidade de Nova York "
NOTAS
1. Trocadilho com "Macho Alfa", líder do bando.
2. Referência ao seriado Seinfeld.
3. Jornalista americano, ex-apresentador do noticiário Nightline.
4. Alusão jocosa a um discurso de Lincoln.
5. Alusão jocosa a Marx.
6. Referência aos fãs obcecados de Jornada nas Estrelas.
7. Analista de mídia, popular e conservador, nos Estados Unidos.
8. "Fact Checking Their Asses": grito de guerra dos blogueiros, na sua guerra contra a hegemonia da grande mídia, que julgam não ter validade histórica, até o advento dos blogs que vieram para conferir os fatos.
9. No filme de ficção científica Matrix, o que a maioria dos seres humanos pensa ser realidade é, na verdade, uma ilusão fabricada pelo computador. Na verdade, a maioria dos humanos está adormecida em casulos mecânicos, com tubos ligados ao corpo que permitem, aos seus senhores-máquinas, sugar sua energia para alimentar o mundo das máquinas.
10. Expressão usada para enfatizar o fato de se fazer comentários sobre o que já foi comentado.
11. Alusão/trocadilho à famosa evocação de Hillary Clinton sobre a "vasta conspiração da direita".
12. Referência ao famoso livro infantil americano, A Tartaruga Yertle, escrita pelo Dr. Seuss.
13. Referência aos super-heróis de desenho animado e brinquedos, Mestres do Universo.
14. Blogueiro popular e conservador. Ver Instapundit.com.
15. Ver carta publicada em www.hotzone.yahoo.com/b/hotzone/blogs995 .
16. Referência ao mundo oposto nos gibis do Super-homem.
17. Referência ao filme no qual os personagens descobrem que eles podem ver o mundo através dos olhos de John Malkovich, no interior do seu cérebro, literalmente.
18. Inventor da idéia do fenômeno "inexplicavelmente estranho".
19. Referência ao imperador romano Calígula, conhecido por sua depravação e sadismo.